Wardner
As Aventuras de Orchard

Ao chegarem em Wardner todos os mineiros desceram do trem e dirigiram-se para o prédio que pretendiam explodir. Porém a organização do ataque foi tão desastrosa que os mineiros acabaram atirando em alguns dos próprios colegas com os quais vieram, matando um deles. Um jovem escocês chamado John Cheyne, vigia do prédio, foi quem informou ao grupo invasor que não havia ninguém lá. Tal foi a confusão do grupo invasor que, mesmo depois de dominado, o vigia acabou recebendo um tiro no quadril e morrendo no hospital um ou dois dias depois. Se o local estivesse sendo fortemente guardado, como esperavam os mineiros, centenas destes teriam sido facilmente mortos; mas não havia ninguém no local.

Orchard não era nenhuma figura de destaque nessa operação. Ele tinha apenas um revolver enquanto muitos outros portavam armas mais pesadas. Ele era apenas um entre centenas de mineiros que viajaram nos vagões e um dos cerca de oitenta que carregaram caixas de explosivos; mas ele estava por perto no momento em que um dos líderes do ataque perguntou quais deles seriam voluntários para detonar os explosivos e foi um dos que aceitaram a tarefa. Os explosivos foram detonados, o prédio foi destruído e todos voltaram para o trem como se estivessem retornando de uma festa.

No trajeto de volta os mineiros foram descendo do trem e voltando para casa agindo tão naturalmente como se estivessem voltando de uma excursão. Não temiam nenhuma consequência e imaginavam que nem mesmo o governador tomaria qualquer providência contra eles por ter recebido apoio do sindicato em sua candidatura. Estavam totalmente cegados pela influência da massa que não pararam para pensar que não se pode executar um ato terrorista daquele porte, com cerca de mil pessoas envolvidas, sem que nada aconteça; não se pode sequestrar um trem, causar a morte de duas pessoas e mandar pelos ares o moinho de uma mina avaliado em um quarto de milhão de dólares esperando que as autoridades não façam absolutamente nada.

Reagindo à tragédia de Wardner, o Governador Frank Steunenberg decretou lei marcial, acionou a Guarda Nacional e pediu ajuda ao Presidente William McKinley, que enviou tropas federais para restabelecer a ordem na região. Por isso os mineiros não esperavam. Eles haviam retornado ao trabalho nos dias seguintes como se aquele dia tivesse sido apenas um feriado.

No terceiro ou quarto dia depois do ocorrido começou a correr a notícia de que tropas federais estavam a caminho. Muitos homens começaram a deixar a cidade. Orchard e alguns outros foram para o alto de um morro ao norte da cidade e três ou quatro horas depois viram de longe o trem chegando lotado com tropas federais.

Orchard e os que estavam com ele haviam combinado com um negociante da cidade para que este desse um sinal de sua casa avisando-os quando fosse seguro sair do esconderijo; mas tal sinal nunca foi dado. Todos os homens da cidade foram presos e nem o responsável pelo serviço postal foi poupado. Cerca de mil pessoas foram presas em toda a região e até um celeiro foi transformado em cadeia improvisada. As prisões eram feitas em massa, sem acusações e nem provas e os homens foram tratados como gado. A crise foi pior do que qualquer pessoa poderia ter imaginado.

Não havia como voltar. Orchard teve que dormir junto com outros quinze ou vinte homens na cabana de um mineiro, no meio do mato. Às cinco da manhã ele saiu de lá com um dos companheiros fugindo a pé para Thompson Falls, distante mais de sessenta quilômetros. Caminharam na neve profunda até que o sol a descongelasse e chegaram ao destino por volta das dez horas da noite. Na manhã seguinte tomaram o trem para Missoula, Estado de Montana, onde ficaram sabendo que haviam saído de Thompson Falls pouco antes que soldados chegassem lá também para efetuar mais prisões. Poucos dias depois seguiram para Butte, onde estava a sede do sindicato. Orchard viajou doente e demorou vários dias para se recuperar, ficando em Butte por cerca de um mês. Foi assim que ele colheu novamente os tristes resultados das más escolhas.

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Texto extraído do livro
As Aventuras de Orchard
da Editora Luzes da Alvorada.
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