Lutando Pela Sobrevivência
Histórias Inesperadas

Conversando, eles chegaram à conclusão de que seria mais fácil para ambos se lutassem juntos pela sobrevivência, tentando conseguir da forma que podiam algo para comer a cada dia e procurando juntos algum lugar para passar a noite, um dia depois do outro. Foi assim que aqueles garotos, antes desconhecidos, tornaram-se mais do que irmãos pelo resto da vida.

Passaram fome muitas vezes, ficaram na chuva em outras, e descobriram que dava dormir em carros abandonados e dentro de construções. Descobriram também que jornais usados podem ser usados como um cobertor razoável; assim, enrolavam jornais velhos nos braços e nas pernas e colocavam outras folhas de jornal por cima para se aquecerem nas noites frias. Eles dividiam tudo, pois um entendia as lutas e as dores do outro. Se um conseguia uma maçã, certamente iria dividir a metade com o outro. Essa foi a rotina dos dois durante anos.

Os banhos não podiam ser frequentes e dia de banho era dia de viagem; eles tinham que dar um jeito de chegar até uma represa que havia em Santo Amaro, às vezes subindo nos bondes. Chegando lá eles tiravam as roupas do corpo, que eram as únicas que tinham, e as lavavam, deixando-as secar na grama ao sol enquanto tomavam banho na represa.

O que diferenciava Luiz e Daniel dos demais moradores de rua era um inexplicável desejo de continuar lutando e de um dia vencer na vida. Outro diferencial era o gosto pela leitura que ambos cultivavam. Em vez de simplesmente desistirem de tudo e submergirem no mundo das drogas e na marginalidade, eles iam para a biblioteca e passavam horas e horas lendo e aprendendo.

Eles não liam simplesmente por não terem o que fazer, apenas para passar o tempo; liam coisas proveitosas e que um dia pudessem lhes ser úteis. Liam de tudo, desde que tivesse bom conteúdo: clássicos, livros religiosos, de auto-ajuda, jornais e até livros de crítica literária, sendo que um dos escritores mais apreciados por Luiz era Machado de Assis. Esse gosto pela literatura capacitou-os, entre outras coisas, a escreverem bem; coisa que se tornou extremamente relevante para eles posteriormente.

Outra coisa que eles apreciavam era a música. Na biblioteca municipal havia cabines nas quais era possível ouvir boa música e ele apreciavam ouvir Beethoven, Chopin, Mozart, etc.

Porém, acima de qualquer outra coisa, o que mais diferenciava esses dois jovens de qualquer outra pessoa em situação semelhante era a fé em DEUS. Eles oravam juntos a cada dia, mesmo não tendo nenhuma prova de que um dia sairiam daquela vida nas ruas.

Eles tentavam conseguir emprego; mas ninguém queria se arriscar dando trabalho para eles, especialmente pelo fato de serem menores de idade. Foi assim que, depois de anos, Daniel entrou na tinturaria de um japonês e pediu uma chance de trabalhar. Este, a princípio, relutou em lhe dar emprego; mas, talvez pela insistência do jovem, ou mesmo por pena, o homem aceitou dar-lhe a tarefa de buscar e entregar as roupas dos clientes.

Daniel gostava de trabalhar e aprendeu a lavar e a passar as roupas, sendo promovido a passador. Foi então que eles saíram das ruas e alugaram um quartinho no porão de uma pensão. Em cima desse quartinho apertado passava um cano que gotejava muito e, não raro, eles tinham que sair da cama e dormir sentados no chão, enrolados no cobertor. Embora fosse um começo difícil, já era melhor do que morar nas ruas.

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Texto extraído do livro
Histórias Inesperadas
da Editora Luzes da Alvorada.
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