Discutindo no Ônibus
Histórias Inesperadas
Há muitos anos atrás trabalhei com um policial militar que, vez ou outra, me contava algumas experiências um tanto quanto bizarras.
Em alguma ocasião na década de 70, ele estava viajando em traje civil bem simples, em pé, em um ônibus urbano lotado na capital paulista. Havia uma mulher grávida em pé não muito longe dele e, próximo a ela, um homem sentado que, aparentemente, não estava se importando com o fato. Não gostando do que estava vendo, o policial à paisana dirigiu-se ao homem sentado e disse-lhe:
- Cidadão, por favor, dê o seu lugar para essa mulher se sentar.
Este, não gostando de ser “lembrado” do seu dever ético, fez parecer inicialmente que não tinha escutado; mas irritou-se quando aquelas palavras foram repetidas e reagiu dizendo:
- Quem é você para querer mandar em mim?
O policial, sem se identificar, reforçou:
- Cidadão, a mulher está grávida, você é homem e até por um gesto de cavalheirismo deve deixar que ela se sente.
A resposta foi:
- Vai cuidar da sua vida!
A mulher, constrangida, tentou amenizar o problema dizendo:
- Não tem problema, tudo bem, pode deixar...
Na verdade, o meu amigo policial não tolerava muito cenas como aquela e estava só esperando o momento certo de ensinar bons modos àquele arrogante que se sentia um rei entronizado num banco de coletivo urbano. Embora suas roupas extremamente simples jamais fizessem alguém imaginar quem era, ele alterou o tom da voz e falou:
- Cidadão, levante agora e deixe essa mulher sentar!
Aquele homem num gesto de arrogância levantou-se, empurrou a mulher com o braço e retrucou em voz alta, a fim de que todos vissem que ele estava pronto para bater no meu amigo:
- Quem você pensa que é pra querer se meter na minha vida? Está pensando o que? Por acaso você sabe com quem está falando? Você sabe quem eu sou?
O policial não pensou duas vezes. Tirando a identificação do bolso falou:
- Quem você é ou deixa de ser no momento não me interessa; mas eu sou policial e você está preso!
A postura dele seria questionável na atualidade; mas, naquela época, a lei lhe facultava o direito de agir assim. Risadas, vaias e assobios tomaram conta do ônibus enquanto os demais passageiros aplaudiam o policial. Todos estavam revoltados por terem presenciado a arrogância do homem que não queria se levantar para deixar uma gestante se sentar, mas se levantou para agredir alguém; e agora teria que continuar em pé, algemado a uma das barras verticais do ônibus, até ter que descer com o policial na delegacia mais próxima para ser autuado em flagrante por agressão, tendo empurrado uma gestante em um ônibus lotado, além de ter que responder por desacato, uma vez que arriscou-se a insultar um policial publicamente depois de este já ter se identificado. Duas testemunhas se prontificaram para descer na delegacia e confirmar os fatos a fim de que o “reizinho” aprendesse a não tratar as pessoas daquela maneira.
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Texto extraído do livro
Histórias Inesperadas
da Editora Luzes da Alvorada.
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