Miniaturas da Intolerância
Tramas Espantosas

Depois da morte de Nero seus sucessores deram continuidade ao massacre, sendo que no ano 72 d.C. Vespasiano deu início à construção do Coliseu Romano no mesmo local onde a desgraça começou, ou seja, onde o incêndio de Roma foi iniciado. Esse mesmo Coliseu, que hoje é atração turística, foi o palco de atrocidades das mais variadas contra os cristãos, onde milhares foram torturados e mortos enquanto a plateia se divertia.

Não vou dar detalhes sobre como os cristãos eram mortos. Existem informações de sobra a respeito do assunto em livros, nas bibliotecas e na internet e não desejo tornar este volume uma história de horrores. Basta lembrarmos que nos anfiteatros da antiga Roma, nas câmaras e nos tribunais da Inquisição, durante a Idade Média, e nos campos de concentração nazistas, tivemos algumas amostras de até onde a humanidade pode ser rebaixada quando a maldade, o ódio e o preconceito ditam as regras. Que a lembrança de tais fatos nos leve a não permitirmos que tais cenas se repitam.

Eu era pequeno, mas entendi as palavras do meu tio durante a conversa: “É por isso que eu não gosto de ‘crente’”. Ele tinha um preconceito enorme contra pessoas religiosas, especialmente “os crentes”. Se alguma das minhas tias perguntava por que ele agia assim, sem saber como eram as igrejas, ele dizia: “Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe”. Ele gostava de bater no bolso com a palma da mão e dizer: “O meu deus está aqui, ó”.

Para “azar” do meu tio, quase todos os parentes eram “crentes”, das mais variadas denominações religiosas. Sua própria esposa passou muitos anos “pulando de ganho em galho”, indo das igrejas mais liberais para as mais conservadoras, experimentando magias e até superstições das mais variadas até, finalmente, encontrar paz de espírito na fé que professou pelo resto da vida.

Meu tio, que viveu muito menos do que ela, não gostava de regulamentos, muito menos dos que eram seguidos pelos “crentes”; mas não deixou de pedir orações aos “crentes”

Embora a humanidade olhe hoje com horror para as injustiças praticadas sob o governo dos imperadores romanos, durante Inquisição ou sob o nazismo, ainda existe preconceito escondido em cada canto da sociedade, até mesmo de “cristãos” contra cristãos. Muitas pessoas rotulam injustamente a fé alheia sem nem ao menos quererem saber as razões dessa fé. Não importa como chamem esse ato, seu verdadeiro nome é preconceito.

JESUS reprovou a falsa piedade dos que seguia as pegadas dos impiedosos: “Ai de vocês, porque edificam os túmulos dos profetas, sendo que foram os seus próprios antepassados que os mataram. Assim vocês dão testemunho de que aprovam o que os seus antepassados fizeram. Eles mataram os profetas, e vocês lhes edificam os túmulos.” (Lucas 11:47 e 48). Quem condena as injustiças dos tempos da intolerância, mas pratica intolerância disfarçada no presente, homenageia as injustiças do passado.

A frase “não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe” não foi inventada pelo meu tio. Não sei quando ela surgiu e não creio que ela desapareça enquanto existir preconceito neste mundo. Mas sempre que alguma semelhante é usada por alguém que despreza as convicções alheias surge uma pequena réplica da intolerância e do preconceito que os cristãos sofreram no passado.

Você já foi ignorado(a) ou menosprezado(a) por alguém que, por algum motivo, se achava melhor do que você ou que achava que você era inferior a ela? Como você se sentiu? Se foi ruim, coloque como regra em sua vida nunca menosprezar a crença de alguém, especialmente se não souber as razões dessa crença.

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Texto extraído do livro
Tramas Espantosas
da Editora Luzes da Alvorada.
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